quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Visita da solidão


 A forte chuva surpreendeu a todos, raios e trovões riscavam o céu e enfeitavam a noite. Muitas pessoas ainda estavam acordadas, apoiadas em suas janelas ou nas varandas assistindo os pingos de chuva dando banho na cidade. Mas não eram só as nuvens que choravam naquele momento...
 Em um quarto escuro de uma casa fria o arrependimento invadia a mente de uma jovem mulher. Ela estava aflita. Enfiada entre travesseiros e lençóis, as lágrimas molhavam suas bochechas e lavavam seus lábios levando embora todas aquelas palavras más que um dia foram ditas. Ela soluçava, tremia e chorava. Ela sabia que existiam tristezas maiores que ela e a dor dela, mas chorava assim mesmo.

 Fincava as unhas longas nas coxas, tentando se machucar, tudo que ela queria era sofrer para esquecer que já estava sofrendo. Mas era tão covarde que não conseguia, não agüentava a dor, sentia pena de si mesma e parava.
 Apertou algumas vezes o travesseiro contra o rosto e gritou. Gritou de raiva dela mesma. Sempre soube que aquilo aconteceria, mas nunca pensou que seria tão doloroso, que se sentiria tão frágil e vulnerável. Aquela era uma situação mais que patética, e ela sabia disso. 
  Ela não chorava mais por um só motivo, chorava por todos os motivos do mundo. A televisão não era ligada há muito tempo, pois ela sabia que se ligasse não receberia boas notícias e nenhuma novela ou seriado conseguiria distraí-la. Em passos lentos, caminhava pela casa inteira, tentando desviar das roupas jogadas, copos quebrados, corações estilhaçados e das marcas de vômito espalhadas pelo chão.
 Sentou-se no lugar onde costumava ficar deitado seu gato de estimação. Este tinha fugido dali, pois aquele lugar já tinha virado uma casa abandonada, ninguém mais morava ali. Só ela: os restos de alguém que um dia foi feliz.

10 comentários:

  1. poxa, pra até o gato ter ido embora, deve ter sido algo mt freud... essa situação permite várias raízes, várias causas... ótimo texto, poderia continuar! =)

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  2. *-*
    Você pode escrever crônicas.. Aliás, como eu já tinha dito, você pode escrever qualquer gênero que sempre será um texto lindo e bem formatado! Parabéns =D

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  3. Que lindo, Carol! Você tem que continuar a escrever, SEMPRE!

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  4. Acho essa o tipo de visita meio inevitável.
    Muito bom, Carol! Parabéns! :)

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  5. Caramba, estou imprecionado com o seu texto... muito bom mesmo!
    Está de parabéns Carol! ;D

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  6. Carol,
    Adorei esse texto e todo o seu blog .
    Parabéns. Virei seguidor... :-)
    Sorte e sucesso prá voce !

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  7. Por tanto que essa visita seja rara. Às vezes ela ela se torna necessária. Sei lá... :s
    Cada vez você nos impressiona com o modo que você consegue passar os seus sentimentos, Carol! Parabéns!

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  8. Nenhum de meus simples comentários será capaz de elogiar um texto tão fantástico! Porém o que aconteceu para você escrever um texto tão belo e mesmo eu sentindo que tem um tristeza invadida pela solidão nele e talvez em vc.

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  9. André, a continuação fica por conta da imaginação de vocês.

    Leca, tristezas fazem parte da vida não é verdade? Sempre tem uma parte de mim que está feliz o bastante para escrever sobre coisas belas, e sempre tem uma parte de mim que está triste o bastante para escrever outro tipo de coisas belas, como esse texto.

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  10. Concordo... e acredito que realmente existe esse equilíbrio em nós, entre nossas alegrias e tristezas. Como diria Augusto Cury, somos fantásticos por saber viver com as estações emocionai do nosso ser. Bravo pelo texto.

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