quinta-feira, 14 de julho de 2011

Flerte com a lua

  Hoje a lua está cheia. Sempre fui completamente apaixonada pela lua em todas as suas fases, mas a lua cheia me causa uma sensação de leveza e harmonia que poucas coisas no mundo me causam. E se você permite que eu te conte um segredo, eu acho que ela sabe e só finge não saber. E eu claro, finjo não saber que ela sabe.
  Mas ela sabe sim, e por conta disso faz questão de estar ainda mais bela quando nos encontramos. Ela sorri lindamente. Eu sorrio abobalhadamente. Às vezes, a vejo pela janela do carro sem que ela perceba, e ela fica lá com seu brilho contente. E quando sente o meu olhar, trata logo de fazer uma bela dança com as nuvens para mais ainda me encantar.
  Sozinha a lua já me arranca suspiros, e imagine então quando está adornada por algumas nuvens. É mágico. Daí eu fico sem entender quando olho para os lados e vejo pessoas atravessando a rua, outras dirigindo enquanto sob suas cabeças acontece uma encantadora – e gratuita - apresentação de dança.
  Mas logo percebo que talvez seja por isso que muitas delas reclamam o tempo todo de stress, rotina, trânsito, trabalho, do alinhamento dos planetas ou qualquer outra coisa que queiram inventar. Aposto que se elas parassem um pouquinho só para presentear seus olhos com a beleza do luar elas seriam um pouquinho mais felizes.
   Mas é claro que quando muita gente começa a observá-la, ela sente uma pontinha de vergonha. E então começa uma brincadeira de esconde-esconde, a lua decide se colocar por trás das nuvens para não ser alvo tão fácil dos olhares maravilhados. Mas as nuvens estão no nosso time, e passam então a deixá-la descoberta, elas correm. E a bela lua põe-se a procurar outro lugar para se esconder.
  Quando ela cansa, passa então a se exibir novamente. A lua me emociona, me canta e me apaixona. Se é que eu posso te contar mais um segredo, ela nem quer nada comigo de verdade entende? E até acho que não conviveríamos muito bem, mas sabe como é, olhar não tira pedaço.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

A esperança é a última que morre


  Sim, é verdade. Ela nasce muito antes de nós, e ficará ao nosso lado para sempre. É melhor se acostumar com o otimismo meu rapaz, ele nunca largará o seu pé. Até tem gente que se diz pessimista, mas não são não, eles só estão disfarçados.
  Normalmente os que se dizem pessimistas não gostam da realidade que levam e não tem coragem de mudar. Eles sonham muito mais alto do que qualquer um na face da terra. A diferença é que eles se contentam em ficar só com os sonhos e acham que reclamar da vida é um barato. Ou pelo menos fingem achar. Mas é tudo mentira. Pensar que nada vai dar certo é só mais um modo de achar que vai dar tudo certo.
  Sempre achamos que no próximo segundo vamos dar de cara com alguém que vai mudar a nossa vida, que vamos ganhar na loteria, que vamos passar de ano ou que o nosso biscoito não vai cair com o recheio virado pra baixo.
  A esperança as vezes nos faz mal, pois ela não sabe que deve ser moderada, ela existe e acabou. Está ali no nosso ombro sussurrando no nosso ouvido que o que a gente quer vai acontecer sim, não precisa se preocupar. A gente sabe que ela está ali, a gente sabe que ela não sabe o que está dizendo, mas é tão mais fácil acreditar nela a ter que encarar a verdade. Acabamos quebrando a cara.
  Ela vai nos matando aos poucos... Uma decepçãozinha aqui, umas tristezinhas ali. Quando já não temos mais expectativa alguma e a vida nos abandona, a nossa velha companheira chamada esperança nos acompanha também na morte.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Tchau Hagrid...


A casa ficou vazia. Faltam quatro patas aqui. Faltam os pelos amarelos por toda parte e aquela criatura enorme jogada no meio da casa. As bacias grandes de água e ração foram escondidas para evitar mais cachoeiras de lágrimas. Todo mundo está calado. Mas todos estão chorando, no banheiro, na varanda, no travesseiro e em todo lugar.
Os corações estão tristes e incompletos. A falta do som das patas se arrastando no chão. Hoje ninguém vai ter que descer pra passear. Ninguém vai latir no meio da noite, durante um sonho qualquer. Ninguém vai abanar o rabo às quatro da manhã quando eu abrir a porta devagar com os sapatos na mão. Ninguém vai me fazer companhia na cozinha ou encostar a cabeça na minha perna e pedir carinho.
Olhando pra varanda, onde costumava ficar o gigante posso me lembrar de cenas lindas que aliviavam meu coração. Até sorri, lembrando das minhas tentativas frustradas, quando ele era mais novo, de fazê-lo pegar a bolinha que eu jogava lá longe. Ele sempre ia correndo, chegava, cheirava. E voltava com passos lentos deixando-a para trás. Ou então agarrava a bola e não me devolvia mais. Eu sempre me frustrava. Eu sempre ria.
Todas as noites sozinhos em casa e as bolinhas jogadas perto do portão, todas as experiências vão ficar para sempre marcados do meu coração.
  
                

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Os versos e notas que nos arrancam lágrimas

       Estava eu curtindo mais uma segunda-feira irritante depois de um final de semana estranhamente interessante, escrevendo e lendo as bobagens que as pessoas colocam na internet quando vi o DJ Ashba, perguntando no twitter o que as pessoas tinham achado do This Is Gonna Hurt, CD novo do Sixx AM. Tinha esquecido totalmente do lançamento do cd, e na verdade até agora ainda não sei quando foi. Mas então fui procurar algum site onde eu pudesse escutar as músicas novas até que eu arranjasse dinheiro pra importar o bendito cd. E achei. Já tinha escutado uma das músicas, Lies Of The Beatiful People, a segunda faixa, e já adorava. Tudo totalmente diferente do primeiro CD da banda,  o The Heroin Diaries Soundtrack, onde o baixista Nikki Sixx contava em belas canções algumas das suas sensações no perigoso amor pela heroína.
       Já nos primeiros versos me apaixonei. Mas foi em Live Forever, que eu desabei. Uma das músicas mais impressionantes que escutei ultimamente. Confesso que ignorei o resto das músicas e fiquei um bom tempo escutando essa mesma música e relembrando coisas, revivendo coisas.
     Semana passada minha mãe fez uma revolução aqui em casa e disse que eu e minha irmã lavaríamos a louça dos finais de semana, boa moça que sou, fui arrumar a bagunça do almoço, e claro, sem esquecer de colocar os fones no ouvido para conseguir completar a tarefa que para mim, é muito mais que irritante. Coloquei para tocar somente as músicas do CD Canções de amor, do Oswaldo Montenegro e comecei a esfregar alguns pratos.
  Depois de alguns copos sujos,  Montenegro parou de cantar e falou algumas palavras acompanhado de um belo dedilhado no violão. Eram palavras tão lindas que eu me desliguei do mundo. Eram palavras tão lindas que eu não fui capaz de segurar algumas muitas lágrimas que estavam presas. Eram palavras que me consolaram como ninguém consolou. Ainda bem que ninguém me viu, por que essa sim era uma cena patética. Imagine só, uma louca lavando louça e chorando, soluçando por conta de uma musica.
     Mas gosto de quando isso acontece. Alguém narrando a minha vida, falando o que eu não consigo dizer e me dizendo o que eu na verdade já sei, mas não sei que sei. Musica é isso, às vezes um tapa, às vezes um abraço amigo, mas quase sempre, inesperado.

quinta-feira, 31 de março de 2011

Deve ter acontecido algum terremoto em mim enquanto eu dormia, acordei e minha cabeça estava uma confusão só: a raiva estava derramada por cima da tristeza, a alegria quebrou e eu não consigo mais encontrar aquela tal disposição.

sábado, 19 de março de 2011

"Posso saber qual é a cor do seu cabelo?"




 Não gosto muito de ir ao salão, mas por nunca ter aprendido a pintar as unhas (nem as minhas nem as dos outros), sou obrigada a ir de vez em quando. Esse zelo pelas unhas e outros cuidados femininos às vezes fazem com que eu receba algumas lições. Não estava assim tão cheio, eu era a única esperando a vez, todas as outras clientes já estavam sendo atendidas.
  Acho que já era a terceira vez que eu virava as páginas de uma dessas revistas que tenta prever o fim da novela, mesmo quando ainda está no segundo capítulo, quando uma garotinha me cutucou e perguntou com uma cara pidona: “Posso saber qual é a cor do seu cabelo?”, e apontou para o catálogo de tinturas de cabelo que ela carregava na mão.
  Eu deixei, e ela passou um tempo puxando uma mecha minha para tentar descobrir qual era o nome da cor do meu cabelo. Depois de um tempo, ela desistiu e disse que achava que era castanho com vermelho.
  Depois disso, ela me contou toda a vida dela. Descobri que seu nome era Ana e que tinha sete anos. Falamos de cachorros, escola e Bob Esponja. Antes de ir embora, ela me deu um abraço apertado e me agradeceu por ter sido sua melhor amiga nesse dia.
  Fiquei pensando no que ela disse e percebi que se a gente se permitisse ser um pouco como a Ana, um pouco mais simpáticos e sem-vergonha (no bom sentido), com certeza iríamos ter muitos melhores amigos por um dia, por uma semana e quem sabe até pra vida inteira.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Nesses quatro dias...

  Abri a mala lentamente enquanto minha cabeça transbordava boas expectativas, fui colocando minhas roupas, um pouco de lucidez, alguns biquínis, e uma loucura qualquer. Já fazia algumas semanas que eu esperava pelo carnaval, mas a preguiça não me deixou arrumar a mala antes e eu acabei fazendo isso na última hora. A nossa (minha e de mais três amigas) ida para a casa de praia de um amigo nosso acabou atrasando e eu já nem lembro mais porquê.
  Chegando lá, esquecemos de passar protetor solar ao fazer uma caminhada mais estendida ao meio dia: ficamos torrados, ardidos e vermelhos, tomamos banho de mar e quase nos afogamos com as ondas fortes, conhecemos pessoas bonitas, outras feias, engraçadas, idiotas e algumas tímidas, falamos muita -MUITA- besteira, sentimos vergonha alheia e até vontade de afogar alguns na piscina e descobrimos que se você esperar um pouco e contar até 10, essa vontade passa.
  Nesses quatro dias nós pintamos todo mundo com spray de tinta de cabelo e de espuma,  inventamos muitas palavras novas, aprendemos algumas cantadas e algumas piadas, demos apelidos uns aos outros, contamos histórias de terror quando faltou energia, ficamos com medo de sons estranhos, sofremos com o banheiro quebrado, falamos de vestibular, xingamos e elogiamos professores e alguns até dançaram em cima do carro. Nós sorrimos bastante.
  Nossa, perdoe a minha falta de educação, abri a boca e fui falando antes até que você pudesse dizer “oi”. Vou parar de falar, conte-me sobre você, como foi seu carnaval?

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Visita da solidão


 A forte chuva surpreendeu a todos, raios e trovões riscavam o céu e enfeitavam a noite. Muitas pessoas ainda estavam acordadas, apoiadas em suas janelas ou nas varandas assistindo os pingos de chuva dando banho na cidade. Mas não eram só as nuvens que choravam naquele momento...
 Em um quarto escuro de uma casa fria o arrependimento invadia a mente de uma jovem mulher. Ela estava aflita. Enfiada entre travesseiros e lençóis, as lágrimas molhavam suas bochechas e lavavam seus lábios levando embora todas aquelas palavras más que um dia foram ditas. Ela soluçava, tremia e chorava. Ela sabia que existiam tristezas maiores que ela e a dor dela, mas chorava assim mesmo.

 Fincava as unhas longas nas coxas, tentando se machucar, tudo que ela queria era sofrer para esquecer que já estava sofrendo. Mas era tão covarde que não conseguia, não agüentava a dor, sentia pena de si mesma e parava.
 Apertou algumas vezes o travesseiro contra o rosto e gritou. Gritou de raiva dela mesma. Sempre soube que aquilo aconteceria, mas nunca pensou que seria tão doloroso, que se sentiria tão frágil e vulnerável. Aquela era uma situação mais que patética, e ela sabia disso. 
  Ela não chorava mais por um só motivo, chorava por todos os motivos do mundo. A televisão não era ligada há muito tempo, pois ela sabia que se ligasse não receberia boas notícias e nenhuma novela ou seriado conseguiria distraí-la. Em passos lentos, caminhava pela casa inteira, tentando desviar das roupas jogadas, copos quebrados, corações estilhaçados e das marcas de vômito espalhadas pelo chão.
 Sentou-se no lugar onde costumava ficar deitado seu gato de estimação. Este tinha fugido dali, pois aquele lugar já tinha virado uma casa abandonada, ninguém mais morava ali. Só ela: os restos de alguém que um dia foi feliz.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

"O mais verde é sempre além do que se pode ter"

Nós criamos muitas expectativas pelo desconhecido. Por não possuir algo, idealizamo-la e quando a temos nas mãos nos frustramos por não ser o que nós queríamos e para disfarçar essa frustração, acabamos por idealizar outra coisa e nunca paramos de nos frustrar.  
Se tomarmos um caminho A, nos arrependemos depois por não ter tomado o caminho B. Não é que o caminho A não seja bom, é que nós queremos todos os caminhos. A possibilidade parece melhor do que a realidade. Pois na possibilidade não existem defeitos, nós não imaginamos defeitos. Os defeitos parecem existir somente onde estamos agora. O que nós não temos ou estamos sempre parece ser melhor.
De perto os defeitos são gigantes. De longe eles são inexistentes. Por isso nós escutamos tantos relatos de pessoas que se apaixonam por amigos virtuais. Normalmente sabemos muito pouco das pessoas que conhecemos só pela internet e para suprir essa necessidade de saber mais, completamos essas lacunas com qualidades que nós admiramos.
Criamos pessoas ideais para conviver conosco, mas como vi certa vez em um filme, o ideal é o que só existe na ideia. Buscamos o corpo perfeito, o namorado perfeito, a amiga perfeita, o trabalho perfeito e por ai vai. Às vezes essa vontade de ter a perfeição nos ajuda para tentar nos aperfeiçoar, nos lembra que podemos sempre ser melhor se dermos um pouco mais de nós. Mas vejo por muitos corredores pessoas exaustas e enfraquecidas por não conseguir chegar a perfeição.
O que não sabemos ou o que sabemos e apenas não queremos lembrar é que tanto o ideal como a perfeição não existem, ninguém é perfeito e nem nunca vai ser.
Queremos a perfeição, o inexistente. Queremos o que não temos e não podemos ter. Temos uma fome que só com comida não se mata.

sábado, 15 de janeiro de 2011

A história de Laura

  Faz uns dois anos que estou com o mesmo celular e só a alguns meses atrás descobri que ele tem, sim, aquele lugarzinho para colocar pingentinhos de celular. Sempre achei que não tinha e era meio frustrada por isso, afinal minha mãe faz os pingentes de biscuit para celular mais lindos do mundo. Todas as minhas amigas carregavam obras da minha mãe penduradas em seus celulares e eu não.
  Mas então eu descobri a verdade: meu celular não é desprovido de tal local para colocar os berimbelos! Tratei logo de consultar minha mãe para saber se ela poderia fazer um especialmente para mim, mas antes que eu pudesse perguntar alguma coisa, apaixonei-me por uma galinhazinha linda que estava sentada em sua mesa, amarelinha com o bico bem laranja e olhos pidões. Foi amor a primeira vista, juro. Fiquei com ela. Minha mãe nomeou-a de Laura.
  Ela nos encantou. Eu que sempre falei sozinha, agora falava com a Laura, discutia  e algumas vezes até levava broncas dela que me olhava com os mesmos olhos pidões.
  Laura entrou para a família e todas as minhas amigas já a conheciam e algumas insultavam com ela, alegando que era um pato e não uma galinha. E posso afirmar que essas brincadeiras confundiram bastante a inocente cabecinha de Laura.
   Ela não era uma galinha quieta não, muito pelo contrário. Até quebrou a pata algumas vezes. Não sei como nem aonde isso aconteceu pois ela se recusava a me contar. Mas ela ficou bem, já que minha mãe se mostrou uma ótima cirurgiã de galinhas de biscuit e implantou uma nova pata para que Laurinha pudesse ao menos ficar de pé.
   Aconteceu uma festa de família e eu nem pensei duas vezes antes de levá-la comigo. Até certo ponto foi extremamente feliz, pois não conheço metade da família e a prima que normalmente ficava comigo estava agora com o namorado e Laura não me deixou sozinha, ficou junto a mim.
   Então eu tive a triste ideia de andar com o celular na mão, achava bem divertido ver a Laura brincando de big jump no meu celular. O resultado disso foi que no dia seguinte, Laura tinha desaparecido. Seu corpo não foi encontrado, mas mesmo assim acreditamos que o pior tenha acontecido, pois choveu durante a madrugada e Laura era feita de biscuit e... provavelmente derreteu.
   Fiz uma simulação do acidente – suponho que tenha sido um acidente pois Laura não tinha inimigos – e tudo indica que a culpa foi do celular, que não a segurava devidamente.
Até hoje estou de luto por Laura. Trocarei de celular em seu respeito.