sábado, 15 de janeiro de 2011

A história de Laura

  Faz uns dois anos que estou com o mesmo celular e só a alguns meses atrás descobri que ele tem, sim, aquele lugarzinho para colocar pingentinhos de celular. Sempre achei que não tinha e era meio frustrada por isso, afinal minha mãe faz os pingentes de biscuit para celular mais lindos do mundo. Todas as minhas amigas carregavam obras da minha mãe penduradas em seus celulares e eu não.
  Mas então eu descobri a verdade: meu celular não é desprovido de tal local para colocar os berimbelos! Tratei logo de consultar minha mãe para saber se ela poderia fazer um especialmente para mim, mas antes que eu pudesse perguntar alguma coisa, apaixonei-me por uma galinhazinha linda que estava sentada em sua mesa, amarelinha com o bico bem laranja e olhos pidões. Foi amor a primeira vista, juro. Fiquei com ela. Minha mãe nomeou-a de Laura.
  Ela nos encantou. Eu que sempre falei sozinha, agora falava com a Laura, discutia  e algumas vezes até levava broncas dela que me olhava com os mesmos olhos pidões.
  Laura entrou para a família e todas as minhas amigas já a conheciam e algumas insultavam com ela, alegando que era um pato e não uma galinha. E posso afirmar que essas brincadeiras confundiram bastante a inocente cabecinha de Laura.
   Ela não era uma galinha quieta não, muito pelo contrário. Até quebrou a pata algumas vezes. Não sei como nem aonde isso aconteceu pois ela se recusava a me contar. Mas ela ficou bem, já que minha mãe se mostrou uma ótima cirurgiã de galinhas de biscuit e implantou uma nova pata para que Laurinha pudesse ao menos ficar de pé.
   Aconteceu uma festa de família e eu nem pensei duas vezes antes de levá-la comigo. Até certo ponto foi extremamente feliz, pois não conheço metade da família e a prima que normalmente ficava comigo estava agora com o namorado e Laura não me deixou sozinha, ficou junto a mim.
   Então eu tive a triste ideia de andar com o celular na mão, achava bem divertido ver a Laura brincando de big jump no meu celular. O resultado disso foi que no dia seguinte, Laura tinha desaparecido. Seu corpo não foi encontrado, mas mesmo assim acreditamos que o pior tenha acontecido, pois choveu durante a madrugada e Laura era feita de biscuit e... provavelmente derreteu.
   Fiz uma simulação do acidente – suponho que tenha sido um acidente pois Laura não tinha inimigos – e tudo indica que a culpa foi do celular, que não a segurava devidamente.
Até hoje estou de luto por Laura. Trocarei de celular em seu respeito.

3 comentários:

  1. É lindo o seu poder de escrever! Encanto-me cada vez mais por seus maravilhosos textos, contos, crônicas... Aposte no que você sabe fazer e irá longe.

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  2. Apesar de eles nunca terem se conhecido, formalmente, o Teleco era irmão de Laura. Sim, sim, eles vieram da mesma mãe... Até talvez, da mesma massa... Teleco era um bonequinho feliz e me fazia feliz também... Porém, ele com uma imensa saudade da Laura, resolveu se desprender de mim e ir à procura dela... Tenho saudade de ambos...
    belo texto, Carol :)

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  3. sei exatamente com vc se sente, eu tinha un ursinho no meu celular, o nome dele é Chocolito, ele também era de biscuit, era lindo, meu companheiro, adorava deixa-lo para fora do bolso das minhas calsas, ele se divertia brincando de balanço ali, mas um dia um criminoso veio e pediu meu celular, tentei retirar o meu Chocolito, mas ele ameaçava-me com uma arma, e levou-o, até hj nunca mais comprei nenhum pingente para celular, ainda vivo de luto e cheia de saudades.
    Belíssimo texto!

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