segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Esqueça os calmantes.


  Hoje acordei de madrugada, atordoada por um sonho ruim e não consegui mais grudar os olhos. Caminhei ainda sonolenta para frente da televisão, passei um tempo olhando para a TV sem prestar muita atenção - afinal, não tem nada de bom passando as três horas da manhã -  depois de algumas horas o primeiro raio de luz veio me chamar. Dei alguns passos até a varanda para dar bom dia ao sol. Eu amo o sol. Gosto de fechar os olhos e sentir seu abraço.
  Até tentei fazer isso, mas além do fato do sol estar ocupado acordando toda a cidade, estava frio demais e com os olhos fechados, fui surpreendida com  gotas de chuva beijando minhas bochechas. Foi uma surpresa boa como quando em plena quarta-feira minha mãe fala que iremos comer sushi juntas. A chuva fria batendo no meu rosto quente foi como um abraço de dois amigos que não se viam há muito tempo, e era isso mesmo. Desde que eu me mudei para  Fortaleza, foram poucas as vezes que eu tomei um banho de chuva. E essas poucas vezes sempre acabavam na piscina do meu apartamento.
  Lembrei dos banhos de chuva que tomava há uns anos atrás, no sítio de Maranguape. Bastava cair uma única gota de água e lá estava eu, pronta para me molhar. Depois de um tempo a chuva engrossava e minha felicidade aumentava proporcionalmente, e ai então já podiam me ver de calcinha correndo, pulando e rolando em poças de lama. De vez em quando escutava umas vozes gritando para que eu saísse da lama porque eu iria acabar pegando alguma doença de pele... nunca peguei. Acho que a terra molhada ficava feliz com a minha felicidade e me livrava de qualquer doença que pudesse se aproximar.
  Mas a euforia que me habitava há alguns anos atrás não era a mesma. E hoje eu me contentei em ficar de pijama na varanda do apartamento tomando um silencioso e comportado banho de chuva.
  Aquela meia dúzia de pingos de chuva foi o bastante para lavar na minha cabeça de algumas dúzias de frustrações, decepções e preocupações de alguém que sonha demais. Mas esse é o poder da chuva mesmo, nos deixar mais leves. Então recomendo substituir os calmantes e coisas do tipo por doses homeopáticas de banhos de chuva. A vida assim é mais feliz. E quem não quer ser um pouco mais feliz?

4 comentários:

  1. tu me impressiona, sabia? Eu sinto exatamente isso, mas nunca conseguiria colocar em linhas! A ultima vezes que eu tomei um banho de chuva, se não me falha a memória, foi descendo de um ônibus lotado! Ontem, ou anteontem, não lembro, quando ouvi aquele barulhinho da água batendo na janela do quarto da minha mãe, com um sorriso quase instantâneo, abri a janela e senti nos meus braços aqueles pingos... sem dúvidas é um momento incomparável!Parabéns por saber descrevê-lo!

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  2. Eu não me canso de ler teus textos.. voce sabe que eu to com a cabeça a mil aqui, com milhões de medos e angústias, tenho até pesadelo com a matemática...Mas, ao ler seu texto, ele me acalmou e me fez esquecer, por segundos, aquilo que me pertubava. Fez-me sentir, na metáfora, uma sensação de banho de chuva. Muito bom.

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  3. O encanto que o sol te trás num simples abraço de calor, a paz que das gotas de chuvas causam em sua pele, é a mesma que sinto quando leio-te.
    Sempre fantástica em sua liberdade de sentir o invisível, de acreditar que o mundo é o que vê e não o que a sociedade grita na sua sacada. Eu sei o que é se encharcar na lama, correr na chuva e acreditar que aquela água lava mais que a sujeira superficial, mas limpa sua alma e liberta sua mente, que o sol está mais lindo por acordar a cidade, mais feliz por saber que vc abriu os braços para dar-lhe bom dia. Realmente para que remédios prescritos por um mortal, se a cura está na nossa maneira de ver o impossível, basta abrir a janela. BRAVO

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  4. A chuva bate na minha pele
    não que eu me importe
    só teus textos
    que me fazem mais forte
    traduzem o que pode se sentir
    aos olhos que de quem não vê
    são teus textos,
    que me fazem entender você.

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